André Nicolitt: Justiça e Literatura: Escovando a contra pelo em prosas e versos do Brasil [Seminário]

André Nicolitt

Part of the New Vocabularies, New Grammars: Imagining Other Worlds Series

January 26, 2024

Descrição do evento

Como destaca Adriana Facina, a literatura é perfeitamente utilizável para as pesquisas no campo das ciências sociais, seja utilizando a obra literária como fonte, seja fazendo da própria criação literária objeto de investigação. Para nós, a literatura ilumina, verdadeiramente, as ciências sociais, o que inclui o Direito como ciência social aplicada.

Um grande exemplo de contribuição da literatura para uma reflexão crítica sobre o direito e a justiça é a obra de Franz Kafka. Para alguns especialistas, Kafka desrealiza o real e realiza o irreal - e é exatamente aí que ele desmascara a ideologia, visto que esta, como fachada, tende a contrabandear a aparência pela realidade.

Seus romances são escritos sob a ótica dos vencidos, dos que são triturados na engrenagem racional e impessoal da máquina burocrática, o que produz um efeito que é precisamente descrito por Walter Benjamin quando afirma que as obras de Kafka escovam a contrapelo a imagem demasiado tranquilizadora do poder jurídico e estatal moderno.

Nessa trilha, pretendemos trabalhar dos contos de Machado de Assis que provocam excelentes reflexões críticas sobre o tema “poder” em duas perspectivas diferentes, os efeitos do poder sobre quem o exerce e a crueldade do poder sobre os oprimidos.

Para o seminário de sexta (26 de janeiro), iremos propor uma reflexão a partir de artistas contemporâneos, a poesia e prosa de Elisa Lucinda e as Letras (poesia) de Emicida. O que nos permitira refletir sobre violência policial, a presença de um Estado policial em detrimento de um Estado providência, o racismo, extermínio da juventude negra, ausência de representatividade, meritocracia e tantas outras questões afetas a justiça.

A seminário da professor Nicolitt faz parte da serie New Vocabularies, New Grammars: Imagining Other Worlds. Neste espaço, focamos em críticos e intelectuais que, em suas formas de escrever e pensar, desfazem as divisões e separações entre disciplinas e gêneros, e entre ação política e engajamento intelectual. Nesta prática de fronteira/travessia, novas línguas e gramáticas podem ser imaginadas para significar outros mundos para resistir e se opor à violência imposta pelas epistemes coloniais. Estes estudiosos, críticos e atores políticos oferecem o dinamismo da indeterminação, convidando a práticas que unem palavras e mundos. Cada visita terá duas componentes, uma palestra e no dia seguinte um seminário conduzido pelo orador convidado, com leituras e outros materiais disponíveis para os inscritos.

Palestrante

André Nicolitt é Professor da Universidade Federal Fluminense, no Brasil. É Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e atualmente é Visiting Scholar na University of California Berkeley.